quarta-feira, junho 06, 2007

Uma outra face

Existem coisas em qualquer trabalho que dependem,não só de seu próprio "fazer",de sua própria vontade.Claro que o principal é que você queira e goste do que faz.Que,no exercicio de sua atividade,empregue todo o seu conhecimento e esforço em bem desempenhá-lo.Mas existem condições que independem de você.Mal comparando:Para fazer um bolo que preste você precisa ter uma farinha que esteja em bom estado,não pode e não deve fazer um bolo com farinha mofada,por exemplo.Se não,vejamos:
Participei de um Seminário(era pra ser oficina)sobre Pericia em casos de tortura.Foi ótimo em termos de troca de conhecimento,visão de lesões não comumente vistas em agressões rotineiras,digamos assim.Aprofundamento um pouco maior sobre o Protocolo de Istambul e do Protocolo Brasileiro,etc.Eu calada,só pensando e,qual não foi minha surpresa,na hora da avaliação,em que,aquele ou aquela que quisesse poderia falar,vejo,quer dizer,ouço a maioria de meus colegas de seminário(peritos criminais,médicos legistas,delegados,policiais militares,psicólogos)avaliando que:1)Realmente está passando da hora de se encarar a tortura e fazê-lo com competência;2)Com as condições que temos(ou não temos)é impossivel fazer um trabalho que mereça esse nome.
Realmente,independentemente de tortura ou não,falta,e temos esperança que comece a acontecer,a tal vontade de aparelhar as instituições.Não falo de armas,claro,pois parece que é sempre nisso que se pensa.Falo de espaço físico,aparelhagem,veículos,coisas comesinhas para o trabalho do perito seja o criminalístico ou o médico legista.
Portanto,o próximo passo é retomar a idéia de um centro de pericias de verdade,com os institutos médico-legal,de criminalística e de identificação em uma área construida de acordo com parâmetros corretos.E dentro desses Institutos,gente com salário decente,com material técnico e instalações adequadas para o fim a que se propõem.
Senão,continuaremos a olhar lesões sob uma luz artificial precária,e pensando que esses seminários são feitos para que o governo justifique-se perante os organismos internacionais ou justifique o gasto do dinheiro público:preparação de pessoal para as pericias nos crimes de tortura.
PS:Acho que essa semana se encerra a temporada de seminários e na próxima já voltarei a colocar "a mão na massa".

4 comentários:

Fernando disse...

Pois é, Nunci,
A quantidade de seminmários, cursos, feiras, etc, que são feitas no Brasil e não tem sequência, continuidade e aplicação daquilo que foi discutido, só dá pra gente pensar que, ou foi para empregar alguma verba (e pegar as cobras) ou para fazer cena para os observadores.
Uma pena!
beijos
fernando cals

Marcia H disse...

Obrigada pela prece.

Realmente, sao tantos projetos sem continuacao. Dá pena ver tantos recursos jogados ao léu, que poderiam estar sendo melhor aproveitados.
Bjs

Ciça Donner disse...

Ah mana, enquanto esse meu país amado nao acabar com a mentalidade "primeiro eu" nada anda. Nunca teremos nossos CSI

Lord Broken Pottery disse...

Anunciação,
Muito interessante o post. Ainda não tinha lido nada sobre o assunto. O que guardo na memória, as coisas que eram ditas com freqüência nos jornais, reportam-se ainda ao tempo da ditadura. Era época em que um tal de Harry Shibata (lembra, acho que era assim o nome dele?), assinava os laudos dizendo que os criminosos políticos não tinham sido torturados. O laudo do Herzog, atestando suicídio, me parece que foi dele.
Grande beijo